4 de out. de 2011

Apoio à maior greve da Educação de MG

Gente simples,fazendo coisas pequenas,
em lugares pouco importantes,
 consegue mudanças extraordinárias"
   Provérbio Africano

UM APELO AOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE MINAS GERAIS – por Marilda e Abdon

Pela força do hábito, acordei neste 23 de setembro de 2011 às mesmas 6 horas da manhã – horário em que há quase 20 anos me coloco a postos, pronta para iniciar mais um dia de labuta na escola em que eu trabalho. Ainda meio sonolenta, fiquei, em pensamento, revivendo a rotina que, cotidianamente, cumpro apressada para não chegar atrasada e para conseguir assinar o ponto, pegar os diários e o material, esperar o sinal e ir para a sala de aula. A jornada tantas vezes vivida se encontra há mais de 100 dias interrompida, porque estamos em GREVE pelo cumprimento do Piso Salarial Profissional Nacional.
Conforme os minutos iam passando, angustiada logo de manhã por tantas coisas que me vinham à cabeça – ameaças e perseguições, repressão escancarada saltando das páginas dos livros de história e retornando à praça –, comecei a ouvir os alunos conversando, enquanto caminhavam em direção à escola, que fica bem próxima à minha casa. Já eram quase 7 horas. Uma tristeza imensa invadiu a minha alma. Sabia que em questão de minutos ouviria ecoar o sinal que marca o início de mais um dia letivo. A escola seguindo sua rotina, enquanto PARTE de seus LEGÍTIMOS TRABALHADORES batalham pelo DIREITO de TODOS, não a um rico salário, mas pelos menos ao mínimo de DIGNIDADE e RESPEITO à CARREIRA dos PROFESSORES.
Sempre que ouço aquela sirene, marcando o início e término de cada aula, a sensação de desamparo e indignação queima o meu rosto. Penso em todos os trabalhadores que estão com o PONTO CORTADO, pais e mães de família passando falta até de comida ou sobrevivendo da ajuda de parentes e amigos; contas de água e luz atrasadas; companheiros dormindo em barracas, protestando e sofrendo toda sorte de humilhação na ALMG. Uma vida, já tão sacrificada, agora completamente desorganizada. Como no filme Germinal, sinto-me destroçada pelos donos das minas, no caso, “de Minas”, que, por tudo que temos visto nos últimos dias, não é de seu povo, mas de meia dúzia de burocratas, bem alimentados de comida, mordomias e, sobretudo, de poder.
Recentemente aprendi que GREVE, antes de significar luta e resistência dos trabalhadores, na França, à época da revolução industrial, era um lugar às margens do Rio Sena, onde os trabalhadores se reuniam, dentre outras coisas, para contar piadas, conversar, desabafar. Com o tempo, o termo passou a significar mais do que um lugar. Passou a representar tomada de atitude, um chamado para a luta ou, mais profundamente, um chamado para a vida daqueles que acreditam que todos os SERES HUMANOS têm DIREITO a um TRATAMENTO JUSTO.
Mas o que é um SER HUMANO? Li, em algum lugar, que “ser humano também é um dever”. Não se nasce completamente humano. Nascemos com a potencialidade de vir a sermos humanos e para chegarmos a sê-lo completamente, é necessário, no contato com outros humanos, aprendermos a humanização. Certamente há inúmeros atributos que podem ajudar uma pessoa a cumprir o dever moral de SER HUMANO. Mas, inegavelmente, a SOLIDARIEDADE se encontra entre os mais importantes valores para a humanização.
Desconheço como os dicionários definem a solidariedade, mas entendo que se é solidário quando um ser humano se deixa tocar pela condição do outro. Penso, por conseguinte, que o avesso da solidariedade está em seguir adiante, como se nada estivesse acontecendo, por exemplo, quando companheiros de profissão fazem GREVE de FOME, na tentativa última e desesperada de fazer escutar aqueles que não querem sequer ouvir.
Que certas autoridades, equivocadamente chamadas de representantes do povo, não se sensibilizem com MARILDA e ABDON na ALMG, em GREVE de FOME, eu, mesmo indignada, posso até entender. Por tudo que tenho visto, não esperava que fosse diferente. Mas como compreender que PROFESSORES entrem na sala de aula, sigam a rotina escolar, assistam cabisbaixos a pessoas – sem nenhuma formação e muito menos convicção – assumirem as aulas dos profissionais que estão na luta como se fossem cargos vagos? Como compreender essa ausência total de sensibilidade e solidariedade?
Não, não é o conformismo que faz a história, menos ainda o medo e a covardia. Não é a indiferença que nos faz HUMANOS. E a GREVE já é mais que um lugar. É um CHAMADO PARA A VIDA. Qualquer que seja a condição individual de cada educador, nesse momento em que nossa luta chegou, não nos cabe nenhuma atitude HUMANA, que não seja a de nos solidarizarmos com MARILDA E ABDON. As autoridades podem fingir que não estão vendo. Os profissionais da educação NÃO podem. Há um grupo de pessoas em sofrimento e sacrifício pelo direito do coletivo. É chegada a hora de cada um colocar a mão na consciência e gritar NÃO à arrogância e intransigência desse DESGOVERNO. Com a força que somente os excluídos conhecem, que a sociedade mineira ouça nosso GRITO de protesto por uma vida humilhada, uma carreira destruída, uma profissão completamente desvalorizada! MARILDA E ABDON SOMOS TODOS NÓS.

Lucia Elena Pereira Franco Brito,
Professora de História.

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